O Estado de São Paulo
Vida&
14 de Outubro de 2005
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14 de Outubro de 2005
Estudos mostram que o simples ato de abraçar um parceiro diminui a pressão sanguínea, o batimento cardíaco e o nível de hormônios ligados ao stress
Claudia Ferraz
A sensação na pele quando somos abraçados passa emoção e aconchego para todo o corpo.
Primeiro, o toque sensibiliza todas as células e dá um arrepio. Depois, quando os braços da outra pessoa nos envolvem, com um pequeno aperto, o sentimento se multiplica e leva alívio para a cabeça e para o coração.
Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, publicado no Psychosomatic Medicine, mostrou que o contato físico, como um abraço, pode aumentar a longevidade.
As descobertas sugerem que uma relação forte e duradoura pode proteger contra futuras doenças cardiovasculares, além de fazer bem para a saúde em geral.
O motivo é que ficar em contato com um parceiro diminui a pressão sanguínea e o batimento cardíaco. Uma das pesquisadoras, a psiquiatra Karen Grewen, comprovou que os níveis de cortisol e de norepinefrina, hormônios do stress, foram reduzidos após um abraço. Além disso, o nível de oxitocina, um importante hormônio ligado à fidelidade, aumentou.
Na pesquisa, 28 casais, de 20 a 49 anos, que se relacionavam havia pelo menos um ano, conversaram sobre os momentos felizes. Depois, assistiram a um filme romântico e, alguns minutos mais tarde, se abraçaram.
Segundo o psicoterapeuta do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Eduardo Ferreira Santos, o aumento de oxitocina depois de um abraço chama a atenção. Ele conta que trabalhos recentes mostraram, em animais, que o hormônio é responsável pela manutenção estável de um casal. 'A injeção de oxitocina em ratos mostrou que eles ficaram por mais tempo juntos à prole, depois do nascimento dos filhotes. Em geral, os machos abandonam a família.'
Contudo, Santos explica que não se pode afirmar que quem se abraça mais será mais fiel. A ação do hormônio gera, entretanto, um impulso e um desejo de cuidar. Assim, para quem abraça ou para quem é abraçado, a afetividade aumenta e traz bem-estar.
A psiquiatra Kathleen Keating, que escreveu o livro A Terapia do Abraço (Editora Pensamento, R$ 12), diz que a sociedade atual está sofrendo de solidão. 'A tecnologia moderna é importante, mas todo ser humano precisa de carinho físico.' Intuitivamente o abraço remete ao período em que se é bebê, diz Santos, e os adultos perderam o costume de abraçar.
'Geralmente é um ligeiro tapinha nas costas.' Para algumas pessoas, admitir que precisam de carinho é sinal de fraqueza e dependência, especialmente para os homens, aponta Kathleen. 'Por outro lado, existe algo poderoso em nossos braços, mãos e dedos que faz alguém se sentir amado e cuidado com um simples abraço', diz.
Segundo ela, 5 milhões de transmissões nervosas são responsáveis pelas diferentes sensações do toque. 'No contato, específicas terminações nervosas são ativadas e enviam a mensagem ao longo da espinha dorsal até o cérebro.'
Kathleen diz que existem muitos estudos sobre os benefícios do contato físico, mas que provar que ele é essencial, poderoso e capaz de curar é como argumentar que respirar faz bem. 'Há muita coisa no fenômeno do toque que não pode ser medida.'
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